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sábado, 4 de outubro de 2014

A imagem gráfica do verbo popular

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Existem expressões orais que, usadas na linguagem de todos os dias, consubstanciam idiossincrasias regionais, ou seja, identificam uma vasta e diversa gama de pessoas que as partilham e entendem. 
Estas expressões, algumas de origem obscura, condensam a “sabedoria popular” no achado engenhoso e surpreendente de uma frase curta, incisiva, por vezes maliciosa ou rude. Repetidas de geração em geração, cristalizam a experiência das “coisas da vida” num humor filosófico cuja aparente ingenuidade é sempre condimentada ou contrariada pela veemência da intenção desencantada ou da atitude jocosa. Estas expressões são um património valioso porque são o nervo vivo daquilo que se chama identidade cultural.  
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Todas as terras tem o seu património destas “frases feitas”. A Figueira da Foz também. Quem não conhece expressões tão peculiarmente figueirenses como: “’tá o mar um cão”, “fumo pra tavarede”, ‘tá cheiroso este bueiro”, “trinta mares te comessem”, “’pera aí que já cospes”, etc., etc.?
Há tempos ocorreu-me desenhar uma “expressão visual” ou “imagem gráfica”, para cada uma destas conhecidas expressões populares figueirenses. Pode ser que um dia me resolva editá-las numa colecção de cartões-postais, ou, pior ainda, a imprimi-las em t-shirts (diz que há mercado para tudo).
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Isto vem a propósito de um pentelho que se propôs (cheio de eufemismos, como um genuíno figueirinhas) insultar-me sem o fazer: o desinfeliz (que diz chamar-se Rui Beja e se supõe uma espécie de porta-voz oficioso da Câmara Municipal) “presume” que eu sou “profundamente ignorante” porque “não quer crer” que “haja má-fé” no teor deste cartoon, que me foi suscitado por esta notícia, e que editei no blog do meu amigo Agostinho.
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Ora quanto a fé, batatas – não fui agraciado com qualquer delas; nem boa, nem má, nem assim-assim – e receio que não haja nada a fazer.
Já quanto a ignorância, fui apanhado, reconheço-o - há, de facto, demasiadas coisas que ignoro. Contudo, sei que nada sei, e isto tem-me permitido aprender, tomar conhecimento, entender uma data de outras coisas intangíveis a lambe-cus como o senhor Beja. Por exemplo esta: a democracia é (ou devia ser) o governo através da discussão. Ora uma sessão de esclarecimento não é o mesmo que uma discussão pública  – uma é vertical, de cima pra baixo; outra é horizontal, uma coisa entre iguais – na primeira, o consenso é o triunfo de quem dá as respostas (em geral já prontas); no segundo o consenso é a satisfação das aspirações, ou da simples curiosidade, de quem faz as perguntas, ou seja, a democracia.
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Outra das coisas que me tem permitido o reconhecimento da minha ignorância (e que visivelmente também não está ao alcance do senhor Beja) é o entendimento da função do humor em sociedade: a mim desopila-me o fígado e permite-me comentar a iniquidade do mundo com um olhar distanciado e uma certa urbanidade; isto é, sem ceder a arroubos mais primários, como o insulto soez ou a bomba. Mas igualmente sem eufemismos. Eu mato a cobra e mostro o pau.
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Por isso decidi editar aqui hoje uma das minhas “expressões visuais” de um dito popular figueirense que talvez elucide o senhor Beja e outros pentelhos.
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