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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

a estratégia da virgem-puta

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O vereador (e vice-presidente do município) António Tavares está de regresso aos jornais. Logo na sua primeira crónica semanal, no “jornal” As Beiras, resolveu investir (como S. Tiago aos mouros) contra a internet e as redes sociais. Segundo o novel colunista de tão reputada folha de couve, a opinião, veículada nestes novos suportes, “banaliza-se”, torna-se “oca, superficial, efémera e líquida”  e “serve de muito pouco, sobretudo quando destila ódios pessoais e assenta na falta de estudo e informação ou na deturpação maliciosa dos factos”. E remata: “este “paleio” produz muito ruído e encrespa a espuma dos dias”.
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Napoleão Bonaparte dizia que nunca se deve interromper um inimigo quando ele está a cometer um erro. A verdade porém é que não considero o vice-presidente um inimigo; nem me considero aliás visado pela artilharia vaga deste colunista das beiras (tenho quase a certeza que ele, na sua douta ignorância, nem sequer sabe que este blogue existe, nunca cá veio, nem conhece ninguém que o tenha feito) e  enfim, não sou nenhum napoleão; não cultivo aquilo a que o imperador dos franceses chamava “inimigos” - não que não os tenha, mas a mim (não sei porquê, embora imagine) eles não se me declaram.
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Posto isto, permito-me considerar que António Tavares comete um erro e, já agora, que também ele não é nenhum Bonaparte – quero dizer, ele já é pro-cônsul da Figueira e pode ser que chegue a cônsul e até, depois, a imperador, mas nunca será um grande estratega – essa é que é essa.
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Senão vejamos: Napoleão explicou assim a sua estratégia militar: “... Quando, com forças inferiores, enfrentava um grande exército, concentrava rapidamente todas as minhas forças e precipitava-me como um raio sobre uma das alas inimigas e esmagava-a. Depois, aproveitava a desordem que esta manobra não deixava de produzir no exército inimigo e atacava-o noutro ponto, sempre com todas as minhas forças. Batia-o assim em detalhe e a vitória, que era o resultado final, constituía sempre, vêde, o triunfo do grande número sobre o mais pequeno.  
E não é isto que Tavares faz. Ameaçado por uma opinião que “destila ódios pessoais e assenta na falta de estudo e informação ou na deturpação maliciosa dos factos” ele não se comporta como o grande general (esmagando o inimigo plas alas, em detalhe) mas sim como um soldado histérico que, cercado na sua trincheira, reage como uma barata tonta: dispara a eito sem sequer visar.
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O que me causa contudo alguma perplexidade não é tanto a atitude de barata-tonta, é a sua estratégia de “virgem-puta”: ao lançar um anátema sobre quejandos, isto é sobre todo-mundo e ninguém, Tavares parece esquecer-se, convenientemente, dos seus tempos de jornalista (e de tempos mais recentes, já depois do advento da internet, em blogues anónimos) em que usava sem parcimónia do pseudónimo para, em prosa sátira e jocosa, também ele produzir “paleio” que fazia muito ruído e encrespava maliciosamente a espuma dos dias. Um género jornalístico cujo estilo aliás, embora acanalhado (consiste em atirar a pedra e esconder a mão) é muito apreciado pelos figueirinhas, desde “o Palhinhas”.
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Tenho mais medo de três jornais do que de cem baionetas”, dizia também Napoleão Bonaparte. É natural temer-se o que não se controla. A verdade é que as gazetas do seu tempo não dependiam de publicidade ou de boas vontades institucionais como os jornais de agora - talvez por isso hoje António Tavares, pro-cônsul de uma autarquia com maioria absoluta, que despacha à porta fechada e traz os seus autarcas pla rédea curta (não têm autonomia nem para mudar um sinal de trânsito) não tem medo nem de cem jornais – são baionetas de papel. Tavares poderia até sentar-se neles, aliás é o que faz - a opinião neles publicada não torce, nem amola, nem belisca. O exemplo vivo desta asserção é a sua segunda crónica, uma coisinha redundante e ôca, redigida num economês superficial, efémero e líquido que serve de muito pouco salvo para provar isso mesmo.
O que me parece que ele teme (e é natural, tal como em Napoleão) é o que não controla. E isso agora está nos novos suportes das tecnologias da informação: a expressão livre da opinião.

Ao alto, Napoleão –a partir do notável Napoléon abdiquant à Fontainebleau de Paul Delaroche, com a devida vénia.
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