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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O estado da arte

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Por vezes, quando não me apetece desenhar, acontece-me deambular. Contudo, levo sempre comigo um aparelho fotográfico. Como dizia o grande Kurt Schwitters, tudo o que um artista faz é arte.
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Embora não seja bem Cunha Rocha, esta foto representa, de certo modo, uma marinha: não possui, é verdade, a transparência de uma aguarela do velho mestre (o dia estava turvo) nem a força transcendente de um dos seus alagados (a vida tem sido uma seca severa), mas tem tudo o que manda o figurino: céu em cima; água no meio e até uma ponta de areia, por baixo; sem barquinhos nem gaivotas; nada de anedótico ou circunstancial. Se isto não é arte, é documento, porra; ou seja, arte documental. E para memória futura. É com ela que inauguro uma nova etiqueta neste blogue, a que chamarei o estado da arte.

Praia do cagalhão, Figueira da Foz, Abril de 2012. 
É nestas águas salobras e tépidas, que já lavaram as mágoas da cidade (de várias cidades, desde a Serra de Estrêla) e foram lavadas pelo sal do oceano com o qual entretanto se misturaram, que os figueirenses mais pobres de espírito vêm, de Verão, dar banho às almas e aos cães.
Ao centro, na foto, a foz do rio Mondego, entre, à esquerda, o molhe sul e, à direita, o recente e garboso molhe norte; logo a seguir, o Oceano Atlântico himself e depois, muito para lá do se vê, a América - não tem nada que enganar, é sempre em frente.
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Para cá do que se vê, ficará, depois das obras de requalificação da zona envolvente do Forte de Stª Catarina, financiadas pelo QREN e por contrapartidas do jogo:
- um espelho de água artificial, à cinta do citado forte;
- uns quantos cortes de ténis para usufruto, naturalmente, desse tão reputado como selecto e pouco laureado Club de Tennis que está, afinal, à imagem da burguesia que representa: uma classe alta cujo empreendedorismo é de cunho muito mais recreativo do que competitivo.
-um anfiteatro ao ar livre que adoptará, suponho que por inerência e com naturalidade, o topónimo do lugar.
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Porém, à direita do molhe norte e imediatamente para lá do que se vê, também está previsto, num estudo premiado num concurso de ideias para aproveitamento do areal da praia promovido pelo município, a edificação de uma piscina oceânica. Isso mesmo. Entre a foz do rio e o mar oceano propriamente dito.

Claro que não será uma piscina de características megalómanas, olímpicas ou de competição, nunca. Como empreendimento turístico eminentemente estruturante, o objectivo da coisa deve ser meramente recreativo. Como aliás tudo, nesta terra, habitualmente.
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